Como o novo treinador organizou a Alemanha?
Após dois anos conturbados sob o comando de Hansi Flick, com direito a campanha bastante decepcionante na Copa do Mundo, a Alemanha optou por uma mudança de treinador para recuperar sua equipe. O nome escolhido para preparar a seleção nacional foi Julian Nagelsmann, com contrato até o final da EURO 2024, a ser sediada na própria Alemanha.
Em sua primeira convocação, o ex-treinador do FC Bayern optou por levar um plantel mais experiente - a idade média dos jogadores presentes na lista foi a maior dos últimos 20 anos - e surpreendeu convocando alguns estreantes (Andrich, Führich, Behrens). Os dois primeiros amistosos correram bem (uma vitória e um empate) e dão algumas pistas sobre como ele pretende escalar sua equipe. Vejamos algumas das ideias principais demonstradas nas partidas contra Estados Unidos e México.
FORMAÇÕES BASE
Nagelsmann testou jogadores diferentes no decorrer dos jogos, mas não modificou bastante seu onze titular de uma partida para a outra: foram apenas duas alterações (Hummels-Süle e Füllkrug-Müller).
VARIAÇÃO PARA CONSTRUIR
Durante a primeira fase de construção, a Alemanha mostrou certa variação, trabalhando a partir de estruturas com 3 ou 4 jogadores na primeira linha. A partida contra os EUA começou com Tah trabalhando como um terceiro central e Gosens mais avançado, próximo aos volantes Gündogan e Gross ou já ocupando o campo de ataque.
Esse padrão se repetiu ao longo da partida e em alguns momentos do confronto contra o México, mas a partir do segundo tempo contra os Estados Unidos foi comum ver Gosens ocupar posições mais baixas (especialmente em situações de tiro de meta ou após recuos para o goleiro ter Stegen) para participar de maneira mais ativa durante essa primeira fase, frente à pressão alta adversária. Tal variação na estrutura da Alemanha facilitou a progressão de jogadas, atraindo um número maior de marcadores para então superar a pressão e se estabelecer em campo contrário.
ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
Durante a fase ofensiva, Nagelsmann armou uma estrutura 3-2-5, com o trio de zagueiros por trás, Leroy Sané bem aberto pela direita, Robin Gosens na ala esquerda e 3 nomes ofensivos mais centralizados. Musiala, Wirtz e Füllkrug (Müller) tinham liberdade para trocar de posições, mas a tendência foi quase sempre ter um centralizado e os outros dois ocupando o meio-espaço.
USO DE APOIOS PARA PROGREDIR E CRIAR CHANCES
Dentro de todas essas estruturas de construção e/ou criação, um comportamento padrão se destacou: a busca constante pelo pivô de um jogador para conectar um companheiro entrelinhas de frente para a jogada. Esses movimentos de apoio ocorreram principalmente com Füllkrug, fator que estabelece o atacante como peça importante do time titular. Ao utilizar esse mecanismo para encontrar um homem livre, a Alemanha foi capaz de bater a pressão adversária e progredir suas jogadas em direção ao campo rival sucessivas vezes.
A coordenação entre o trio ofensivo central foi fundamental para o funcionamento desse tipo de jogada: ao perceber o recuo de um dos jogadores, outro compensava esse movimento atacando em profundidade e fixando a linha defensiva para gerar espaço entre as linhas defensivas de seu oponente. No lance abaixo, Wirtz recua para oferecer apoio, enquanto Müller realiza o movimento contrário.
O gol de Füllkrug contra o México, por exemplo, contou esses dois detalhes na origem do lance. A Alemanha circula a bola para a direita, Süle aciona Füllkrug de costas e o atacante realiza um passe de primeira para Musiala, que domina de frente para o gol. O meia aciona Sané em profundidade e na sequência do lance Füllkrug aproveita um rebote para marcar.
INVERSÃO BUSCANDO SANÉ
Além da construção pelo centro a partir de movimentos de apoio, a Alemanha de Nagelsmann também se destacou pela capacidade de encontrar Sané em situações de 1v1, pela ponta direita. Ao concentrar jogadores pela faixa esquerda do campo, os alemães eram capazes de atrair a seleção adversária e então inverter rapidamente a jogada para colocar o ponta em condições favoráveis. Gundogan, especialmente, esteve muito bem realizando esse tipo de passe, uma diagonal longa.
O segundo exemplo abaixo (fotos inferiores), contra o México, mostra como ele induz seus adversários a um lado, antes de girar rapidamente e lançar Sané.
MUSIALA ROMPENDO EM DIAGONAL PELA DIREITA
Ofensivamente, outro ponto positivo da seleção alemã foi o entendimento entre Sané e Musiala nos corredores central e direito. Por ser um jogador canhoto, Sané naturalmente tende a buscar o centro do campo quando recebe a bola, conduzindo com seu pé dominante - essa movimentação poder atrair e arrastar um ou mais marcadores consigo, gerando um espaço a ser aproveitado por outro jogador, seja infiltrando por dentro ou realizando uma ultrapassagem exterior.
Ao receber bem aberto, Sané também espaçava horizontalmente a linha defensiva adversária, aumentando a distância entre o zagueiro e o lateral de seu setor. Musiala aproveitou bem esse espaço e rompeu em diagonal diversas vezes para atacar aquele espaço.
PRESSÃO PÓS-PERDA AGRESSIVA
Problema recorrente desde os últimos meses de Joachim Löw, os comportamentos defensivos da Alemanha mostraram bons sinais, embora não estejam completamente afinados. Nagelsmann não abriu mão de pressionar alto seu adversário, mas o que se viu nestas duas partidas foi um comportamento mais agressivo de toda a equipe, dos zagueiros aos atacantes.
Ao pressionar a saída de bola rival, a Alemanha somou um grande número de jogadores no campo de ataque: isso significou ver o trio de zagueiros avançando com constância, seja para forçar uma recuperação ou interromper a transição adversária com uma falta longe da área defensiva.
Não foi algo perfeito: toda estratégia tem seus riscos e algumas transições perigosas acabaram acontecendo por conta de saltos de pressão atrasados - quando isso acontece, é comum que o oponente chegue ao ataque em vantagem numérica. No entanto, de maneira geral, a Alemanha controlou melhor esse tipo de situação, em relação às exibições anteriores.
ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
Defensivamente, nenhuma grande novidade estrutural aconteceu, com Nageslmann mantendo uma linha com 4 jogadores na defesa e os laterais saltando para pressionar o ponta adversário quando necessário. Foram raros os momentos em que a Alemanha se postou dentro de sua intermediária defensiva para defender com um bloco baixo, mas a tendência nesses casos era formar um 4-4-2/4-2-3-1 com as linhas bem próximas.
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