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Entrevista com Daniel Teixeira, brasileiro ídolo do 1. FC Union Berlin

 Nascido em Belo Horizonte, Daniel Teixeira escreveu seu nome na história de uma das sensações do momento no futebol alemão, o 1. FC Union Berlin

Daniel Teixeira em ação pelo 1. FC Union Berlin (Foto/Reprodução: DFB.de)


Centroavante nascido em abril de 1968, em Belo Horizonte, Daniel Teixeira chegou ao futebol alemão em 1999, mas ainda não seria para defender a equipe dos Eiserner's. Foi no KFC Uerdingen que Daniel deu seus primeiros passos na Alemanha. No clube de Krefeld, Teixeira mostrou seu afiado faro de gols e chamou a atenção do 1. FC Union Berlin, que precisava de um atacante.


Ao chegar em Köpenick, por empréstimo, o brasileiro continuou a balançar as redes e foi um dos principais nomes da equipe que levou o Union Berlin à final da DFB-Pokal jogando na terceira divisão, feito histórico. Na temporada em questão, Teixeira ajudou o Union a conquistar o acesso à 2. Bundesliga, o vice-campeonato da Copa da Alemanha e a vaga para a Copa da UEFA. Entretanto, a meteórica passagem foi interrompida pois o Union Berlin não conseguiu adquirir seu passe em definitivo, permitindo que o brasileiro jogasse também por outros clubes alemães, como Eintracht Braunschweig, Holstein Kiel e Rot-Weiss Essen.


Já com 37 anos, Daniel Teixeira finalmente voltou para Berlim a fim de terminar sua história com o Union. Em um momento diferente, de vacas magras da equipe, Teixeira pôde participar da retomada do clube nas divisões inferiores que veio a culminar no acesso à Bundesliga há poucos anos. Por lá, ele encerrou a carreira e recebeu uma despedida digna de um ídolo.


Behrendt/ullstein bild via Getty Images


Nesta entrevista, Daniel Teixeira falou com a página 1. FC Union Brasil sobre sua carreira e sua passagem pelo clube, o futebol alemão em geral, seu dia a dia na Alemanha, seu pós-carreira e do momento atual dos Eisernen, que vivem seu auge.

Confira a entrevista completa abaixo:

1. Como foi a sua trajetória no futebol até a chegada no Union Berlin?

Resposta: ''Resumindo a minha trajetória aqui, eu sou de Belo Horizonte. Comecei jogando no juvenil, sub-15 como chamam hoje, do Santa Tereza, aí depois fui contratado pelo Cruzeiro que viu o meu jogo lá pelo Santa Teresa, aí disputei o sub 20 pelo Cruzeiro. Ficando dois anos lá [profissional do Cruzeiro],  subindo para o profissional com o treinador Carlos Alberto Silva. Depois disso tive um convite para jogar no Japão. Esses anos que eu fiquei no Cruzeiro foram em 1988  (sub 20)z 1989 e 1990 (profissional). Estive em 1991 e 1992 atuando no Japão e retornei ao Brasil, atuando novamente no Cruzeiro. Em 1993 pelo Cruzeiro fui campeão da Copa do Brasil, que foi o primeiro título da Copa do Brasil do Cruzeiro. Aí depois não tive muita mais chances lá [no Cruzeiro] e me transferir para Portugal. Fiquei 4 anos lá em Portugal, sendo 3 anos na Ilha da Madeira, nas equipes do Nacional e do Marítimo, e 1 ano em Seixal, que fica entre Setúbal e Lisboa, time da segunda divisão lá na época. Depois de Portugal retornei só Brasil novamente, ficando mais um ano, mas aí não tive muitas chances novamente. Aí fazendo uns contatos um amigo meu me levou para fazer um teste na Alemanha, aí eu fui para lá, primeiro clube meu foi o KFC Uerdingen, lá de Krefeld, região oeste perto de Düsseldorf e Colônia. Meu ano lá foi muito bom, fui artilheiro do campeonato com 22 gols. Aí na minha segunda temporada até a metade dela eu tinha feito 18 gols, e o Union estava precisando de um centroavante, aí eu me transferir [por empréstimo] pro Union. Aí foi uma temporada sensacional né cara, fui artilheiro do campeonato com 32 gols, acho que é o recorde até hoje, nós fomos pra final da Copa da Alemanha, quando eu cheguei lá acho que [o Union] estava nas quartas de final, chegamos na final contra o Schalke no estádio Olímpico, com 75 mil pessoas, foi uma temporada muito bacana. Subimos de divisão, classificamos para a UEFA Cup, que é a Europa League hoje. Foi um tempo maravilhoso lá. Mas eu tava só emprestado lá, mas o Union não quis comprar o meu passe ou não teve condições, de pagar a minha liberação pro KFC, aí eu saí. Depois fui pra outros clubes lá na Alemanha, como o Eintracht Braunschweig, que estive por 2 anos onde eu tive temporadas muito boas, depois de lá fui pro Holstein Kiel, KW Essen. Aí com 37 anos voltei pro Union de novo, fiquei lá por mais 2 anos, encerrei minha carreira lá, tive um jogo de despedida, subimos de divisão novamente
 Foi um clube que marcou muito a minha carreira, onde eu tive muito sucesso e me identifico muito com ele e com os torcedores foi uma época bacana demais."


2. Como você se sente sabendo que somando as suas duas passagens você é o 5° maior artilheiro da história do clube?


R: "É muito bom né cara, é muito gratificante saber dessa minha posição na artilharia, mas mais do que isso ainda é saber oque eu pude ajudar o clube, oque eu pode fazer pelo clube. Porque na primeira passagem como eu falei, fomos para a final da Copa da Alemanha, subimos de divisão, conseguimos participar da antiga UEFA Cup, foi um feito até então muito grande pro clube e na segunda vez, na segunda passagem, o clube estava desacreditado totalmente, falido. E foi ali exatamente em 2005 que começou a nova subida do Union que fez com que o Union esteja onde está, porque da minha primeira passagem até a segunda o clube deu uma derrocada né cara. Deixei o clube na segunda divisão, e quando eu cheguei de novo tava na quarta divisão, praticamente falido, os torcedores ajudando com dinheiro, ajudando a doar sangue pra conseguir dinheiro e tudo. Então subimos para a terceira [divisão] e a partir dali o clube só foi subindo e tá onde esta hoje. Então é uma honra e é muito gratificante pra mim saber que eu tive uma participação boa, não so pelos gols, mas por ajudar o clube nessas duas etapas."


3. Você poderia me contar mais como é a atmosfera de jogar no An der Alten Försterei?
R: "Lá é uma torcida diferente né cara, é uma atmosfera muito especial, eu acho que até pela história do clube, tipo assim não pode se comparar Hertha e Union com Cruzeiro e Atlético ou Inter e Grêmio, eu acho que são coisas bem diferentes. Union ele fica numa parte da cidade que vem da antiga Alemanha Oriental. Então eu acho que isso tá muito presente até hoje. É uma torcida muito fanática eles apoiam muito e tem uma história de paixão com o clube que é uma coisa de locou né cara, inclusive eles ajudaram a reformar o estádio, eles dão tudo ali cara. Eu sinto que os torcedores do Union a vida deles é aquilo ali, entendeu? Então jogar naquele estádio ali com 8-10 mi pessoas, hoje tá tudo sempre lotado né cara, hoje o futebol mudou muito também na Alemanha, hoje praticamente todos os jogos lotado, na minha época já era muito boa, [o estádio] não tinha sido reformado ainda, mas sempre foi muito especial jogar ali porque como eu disse da história assim, a torcida faz um barulho muito grande ali, não só no estádio, mas quando íamos jogar fora eles iam junto e participavam. Eles estavam no dia a dia do clube, quando viajamos pra pré temporada eles estavam lá também, era um negócio muito bacana."


4. Quais foram os maiores desafios que você encontrou enquanto atuava pela equipe?


R: "Foram desafios enormes né? Sempre quando eu cheguei o clube estava precisando demais conquistar o objetivo, quando eu cheguei na primeira vez o clube nunca tinha subido pra segunda divisão, realmente ir para a final da copa foi o "plus", não era obrigatório, mas subir de divisão era e o time estava em 6° ou 7° lugar quando eu cheguei no meio da temporada, aí lembro que a gente teve 11 vitórias seguidas aí já fomos para 1° ou 2° entende? Então era uma obrigação o pessoal não aguentava mais ficar lá embaixo, então foi esse desafio de eu ter que chegar e fazer gol, porque o time não tinha isso, e subir de divisão. E foi isso que aconteceu. Na segunda vez também foi um desafio enorme que o time tava lá embaixo e o time precisava subir de qualquer jeito, precisava sair daquele buraco que ele se encontrava, o Union não podia ficar naquele lugar, o clube sem dinheiro, falido, então a situação tava ruim, todo mundo desanimado, mas ao mesmo tempo com aquela de querer dar forças pro time. Então foram dois desafios enormes, mas que graças a Deus foram conquistados."
5. Em relação aos seus companheiros de equipe na época, como era a relação ente vocês? Existiam tradições entre vocês antes dos jogos?


R: "Cara, o nosso grupo era muito bom é tinha gente do mundo todo, tinha eu de brasileiro, muitos alemães naturalmente, nosso treinador era búlgaro, aí tinha uns 4 ou 5 búlgaros, tinha sérvio, tinha albanês, tinha polonês, tinha nigeriano, tinha gente de tudo quanto é lado, na minha segunda vez apareceu um japonês também. É lógico que cada um tinha o grupo que mais se identificava, mas no geral assim era muito bacana, nós fazíamos muita coisa juntos, tem aquela tradição de fazer um jantar, tipo uma vez por mês tinha um jantar do time e o pessoal gostava de uma festa também, era muito bom mesmo. Agora as tradições, não tinha uma coisa muito especial não, era a tradição alemã mesmo de todos os clubes antes de jogar lá, é o grito motivacional antes do jogo. Lá os caras ficam mais concentrados, mais em silêncio, tipo saindo do hotel indo para o estádio, mais concentrado, mais em silêncio e tal, não é que nem aqui com aquele samba, aquele pagode, o pessoal fica mais em concentração, aqui no Brasil o vestiário é uma zona danada, lá é todo mundo quietinho, se você der um piu assim os caras já acham ruim, entendeu? Tem esses costumes essas tradições, mas nada de especial muito não. Mas como eu disse o clima era muito bom, mas quando ganha o clima sempre é bom né? Isso fez parte também né, isso com certeza ajudou o clima a ficar bom, foi uma época de muito sucesso muitas vitórias, então isso ajudou também. O grupo era sensacional, encontro com muita gente ainda tem contato com muitos deles ainda, joguei em outros clubes com alguns também, o pessoal é bacana, mantenho contado com alguns também. Mês que vem vou pra Berlim encontrar com o pessoal de novo também, então foi uma turma que me marcou muito."


6. Depois de sua aposentadoria dos gramados você desempenhou mais alguma função dentro do clube?


R: "Sim, eu parei de jogar em 2007, já tinha nesse último contrato que eu fiz com o clube que eu teria uma função no clube, não tava certo ainda qual função no clube, mas atuei na parte de Marketing e na gestão/administração, fiquei durante 2 anos. Primeiramente teve o meu jogo de despedida né, que eu mesmo organizei, parei de jogar em junho de 2007 e esse jogo foi em outubro, foi uma noite sensacional, inesquecível né? Aí como eu disse trabalhei no clube durante 2 anos, aí fiz clube de treinador também, fiz um curso de gestão esportiva na Universidade de Düsseldorf, fiz alguns cursos na área e tudo, tenho curso de treinador UEFA B, então me preparei e tive lá durante esse tempo. Ai em 2011 eu voltei pro Brasil"


7. Sendo um dos maiores ídolos da clube, como vê essa evolução tão grande em tão pouco da equipe. Saindo da segunda divisão e indo jogar pela primeira vez uma Champions League?


R: "Tenho acompanhado sim, sempre acompanho, cara, simplesmente sensacional, eu acho que não tem nenhum torcedor do Union que se falasse em 2013 que dali 10 anos o time estaria na Champions League cara, é só mentiroso que ia falar que acreditou nisso. Então é uma coisa de louco realmente, o que aconteceu no Union nós últimos anos, tanto de subir pra primeira divisão, e mais ainda, de ficar nas primeiras posições cara, pô o Union nesses 3 últimos anos aí acho aie não ficou abaixo do 8° lugar na tabela final, então poxa cara Europa League e agora Champions League é simplesmente uma sensação, e isso a gente tem que destacar também que não chegou um cara um Abramovich, um cara cheio do dinheiro e botou milhões não, isso tudo foi gestão responsável e eficiente do presidente, que por acaso é o mesmo que me levou pra lá na segunda vez, que é o Dirk Zingler, um cara bacana, um cara competente e tá lá até hoje. Conseguiu levar o time até onde ele tá, então realmente é sensacional cara, é até inacreditável, uma surpresa pra todo mundo."


8. Guarda alguns objetos (camisetas, medalhas, troféus, etc) das suas passagens pelo clube?


R: "Guardo sim, guardo muito coisa, tem troféu, tem aquele Ritter Keule, que é o mascote, camisa. Camisa a maioria a gente da prós outros, pessoal fica pedindo, eu dou para um monte de gente, mas umas duas ou três eu tenho guardadinho aqui entendeu? Tenho troféu, medalha do vice campeonato da Copa da Alemanha, muita foto, muita lembrança, muito recorte de jornal, tenho tudo guardado. Guardo com muito carinho aqui, como eu disse essas lembranças marcaram muito a minha vida, e eu não podia deixar de guardar né?"


9. Do plantel atual do Union, quem é seu jogador preferido?


R: "Naturalmente, o atacante Sheraldo Becker. Li ontem que pode ser que ele saia por 5 milhões euros. O Union não quis pagar 500 mil euros em mim, olha que loucura [risadas]."


Essa foi a entrevista concedida por Daniel Teixeira para o 1. FC Union Berlin BR, o que você achou da história do brasileiro em solo alemão? Compartilhe com os amigos e fique junto conosco para mais conteúdo da Bundesliga e do futebol alemão em geral.

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