Após dois fracassos seguidos, quais jogadores devem participar da próxima Copa do Mundo?
Assim como na Rússia, em 2018, a Copa do Qatar voltou a ser uma grande decepção para a seleção alemã. Apesar do bom rendimento em alguns momentos, a Alemanha pecou muito nas duas áreas e acabou eliminada precocemente, ainda na fase de grupos da competição. Houve discussão sobre a permanência do treinador Hansi Flick no cargo e foi decidido que ele vai continuar no comando, pelo menos por enquanto. Iniciando 2023, o treinador alemão deve realizar alguns testes na convocação para testar novos jogadores e remontar seu elenco.
Um dos temas que tem dominado as conversas é a necessidade de uma renovação no elenco alemão. Considerando os 26 atletas que foram ao Qatar, parece viável imaginar que 10 (38,46%) deles estarão muito velhos para participar da próxima Copa (existem vários atletas que atuam em alto nível após os 32 anos, mas para efeito de comparação esse foi o limite traçado). Dentre eles, estão alguns nomes importantes como Manuel Neuer, Ilkay Gundogan e Thomas Müller.
Antes de falar sobre cada nome, a aposta segura para um possível esquema parece ser um 4-2-3-1 e suas pequenas variações, a formação que Hansi Flick geralmente adota em suas equipes. Durante o ciclo pré Copa do Mundo ele chegou a testar uma equipe com 3 zagueiros, mas acabou retornando a uma linha de 4 defensiva. Imagino que ele seja mantido durante boa parte da preparação para 2026. Através de cortes no elenco atual e novas incorporações, vejamos aqui uma possível projeção de como a Alemanha chegará para a Copa de 2026.
Goleiros normalmente tem uma carreira mais longa: esse é um sinal positivo para ter Stegen (o mais jovem dos 3 goleiros selecionados para o Qatar), que pode finalmente ter sua chance como titular da seleção caso mantenha um nível alto pelos próximos 3 anos e meio. Rüdiger ainda vive o auge de sua carreira e é possível que esteja bem fisicamente aos 33 anos, em condições para atuar pelo menos como um zagueiro reserva. Os dois serão os únicos jogadores acima dos 32 anos mantidos na lista para 2026.
Analisando o restante, outros jogadores também serão "cortados": Ginter, que nunca foi unanimidade e, apesar de ter sido convocado para 3 Copas do Mundo, atuou durante apenas 8 minutos, é um deles, junto ao lateral Lukas Klostermann, convocado por falta de opções. Süle ainda não convence como um zagueiro de elite, mas pela sua capacidade de atuar na lateral direita deve ganhar pontos com Hansi Flick, então vou mantê-lo na lista como uma opção de elenco. Dessa forma, ele assume a função que pertencia a Kehrer, outro nome contestado por parte da torcida e da imprensa alemã.
Passando para o meio campo, Brandt tem qualidade técnica e também é polivalente, mas nunca foi capaz de demonstrar todo seu potencial (em clubes ou na seleção) e é difícil imaginar que o fará aos 30 anos. Goretzka tem certo status, porém tem sofrido com diversas lesões ao longo das últimas 3 temporadas e chegará à próxima Copa com 31 anos: é um problema a ser analisado, mas sendo conservador e considerando que pode ter um papel importante como um dos novos líderes do elenco, garanti uma vaga para ele.
No setor ofensivo, Musiala é o grande nome para o futuro da Alemanha (há quem afirme que ele foi o alemão que melhor atuou na Copa, aos 19 anos) e também tem seu lugar garantido. Em situação semelhante está Havertz, que não vive grande momento no Chelsea, mas sempre correspondeu pela seleção e tem qualidade para retomar a boa fase. Adeyemi e Moukoko são duas outras esperanças para o futuro e espera-se que confirmem seu potencial no Borussia Dortmund para seguir evoluindo - já mais experientes, devem ser nomes prováveis até mesmo pela experiência acumulada no Qatar. Existe uma preocupação sobre Moukoko pelos problemas envolvendo a renovação de seu contrato (não considero que sair para a Premier League - citada como destino provável - seja benéfico ao seu desenvolvimento), mas por ser um talento acima da média ele também será incluído.
Sobre Leroy Sané e Serge Gnabry, vou assumir que ainda estarão atuando em um bom nível e serão convocados: Sané por ser um dos maiores talentos da Alemanha (embora irregular) e pela capacidade criativa e Gnabry por também atuar como atacante e combinar características únicas (ataque em diagonal, boa finalização, mobilidade) no elenco.
Isso nos deixa com 12 vagas para finalizar a convocação (assumindo que serão 26 jogadores na lista final).
Separados por posições, vejamos como preencher essas lacunas...
GOLEIROS
A grande aposta para o gol alemão é Alexander Nübel (26). O ex-goleiro do Schalke 04 foi contratado pelo Bayern de Munique como um possível sucessor de Neuer e tem atuado pelo Monaco (emprestado) nas duas últimas temporadas. Após um começo vacilante, ele se encontrou na equipe francesa e tem sido bem consistente. Ele impressiona também pela similaridade de alguns de seus gestos técnicos com o atual titular da Alemanha - deve ser um nome certo para brigar pela titularidade com ter Stegen.
A vaga de terceiro goleiro, no entanto, gera uma dúvida maior: Oliver Baumann, convocado por Flick em outros momentos, terá 36 anos; Kevin Trapp (o atual dono da vaga), 35; e Finn Dahmen (campeão da EURO U21) teve poucos minutos como profissional, apesar de seus 24 anos. Considerando os nomes da nova geração, Christian Früchtl (22, Bayern), Noah Atubolu (20, Freiburg) e Dennis Seimen (17, Stuttgart) são alguns dos jogadores de maior destaque.
Früchtl chegou a ser apontado como o sucessor de Neuer na meta bávara mas ainda não correspondeu as expectativas e tem uma minutagem pequena como profissional: ele acabou liberado e hoje defende o Austria Wien, onde finalmente tem sido titular. Seimen é um dos nomes mais promissores da Alemanha, se destaca por ser um goleiro ativo, rápido a sair do gol e pela tranquilidade com que sai jogando com os dois pés (arriscando passes rasteiros e verticais com frequência). Apesar de todo seu potencial, Seimen ainda é bem jovem e goleiros costumam se desenvolver tardiamente, quando comparados à jogadores de outras posições.
Por fim, Atubolu é o atual titular da Alemanha sub-21 e renovou seu contrato em outubro com o Freiburg. Internamente, acredita-se que ele possa assumir a meta já na temporada que vem (chegou a participar de alguns jogos neste ano), embora um empréstimo não esteja descartado - ele também se sente confortável com a bola nos pés e tem bom lançamento longo, em diagonal, além de um bom tempo de reação. Não passa de uma aposta, mas Atubolu seria meu nome escolhido para a última vaga no gol.
ZAGUEIROS
A defesa, apesar de ter sido um dos pontos fracos da seleção na Copa, parece bem estabelecida e não deve sofrer grandes mudanças em termos individuais. Nico Schlotterbeck foi um dos melhores zagueiros da Bundesliga na temporada passada e tem tempo de sobra para aperfeiçoar seu jogo, combinando bem sua agressividade habitual ao timing correto de suas ações. Ao lado dele, Armel Bella-Kotchap é uma das opções: após bom ano no Bochum, o jovem defensor chegou impressionando no Southampton, da Premier League, e convenceu Hansi Flick a levá-lo para a Copa mesmo após sofrer uma lesão pouco antes.
São vários bons candidatos para as vagas restantes: Amos Pieper (24, Werder Bremen), Jordan Beyer (22, Burnley), Malick Thiaw (21, Milan), Maxim Leitsch (24, Mainz), Linus Gechter (18, Hertha Berlin), Tarek Buchmann (17, Bayern), dentre outros. Optei por Thiaw simplesmente por considerar que tem um potencial maior e estar atualmente em um clube que recentemente tem se mostrado um bom destino para o desenvolvimento de jovens jogadores e por Beyer, atualmente se destacando em uma liga de grande demanda física (Championship, segunda divisão inglesa).
LATERAIS
As laterais são o ponto mais crítico da convocação, já que a Alemanha tem sofrido para formar jogadores de elite por ali e não tem uma opção realmente convincente desde a aposentadoria de Philipp Lahm (ele, aliás, passou parte da reta final da carreira jogando em outra posição). Na lateral direita, o Wolfsburg conta com duas boas opções, Ridle Baku (24) e Kilian Fischer (22): o primeiro já teve momentos melhores na carreira, mas dada a escassez de nomes deve ser o primeiro a receber mais oportunidades durante o próximo ciclo. Josha Vagnoman (22, Stuttgart) não se desenvolveu como esperado no início de sua carreira e Ansgar Knauff (20, E. Frankfurt) é bem mais um ala/ponta do que realmente um lateral.
Pela ala esquerda, Philip Max (29, PSV) deixou as principais ligas da Europa e chegou a perder sua vaga como titular; Robin Gosens (28, Internazionale) sofreu com um grave problema físico e ainda não se reencontrou após deixar a Atalanta. Adicionalmente, Gosens sempre foi mais uma ala do que realmente um lateral - pode não ser o nome ideal para Hansi Flick formar uma defesa mais segura.
Diante desse cenário, creio que a disputa fique entre Luca Netz (19, Borussia Mönchengladbach) e Tom Rothe (18, Borussia Dortmund), nomes que já atuaram profissionalmente, apesar da pouca idade. Luca leva vantagem pelo alto número de jogos na Bundesliga (42) para alguém tão jovem e se destaca principalmente pelo que faz ofensivamente, reconhecendo espaços para atacar antes de receber a bola, mas também tem boa leitura defensiva e velocidade para recuperar bolas em duelos diretos. Sua altura (1.84m) pode ser um fator importante na bola aérea também, caso ele desenvolva essa parte de seu jogo até 2026.
MEIO CAMPO
Nesse setor, a Alemanha tem sentido falta de um volante que alie sua capacidade de passe com uma segurança defensiva maior. Até então, o principal nome com essas características é Niklas Dorsch (24, Augsburg). Ele preencherá uma das vagas simplesmente por ser muito competente em coberturas defensivas e em interromper ataques adversários antes que se tornem perigosos. Ele também se destaca nos passes longos e sabe jogar como o único volante de sua equipe, características que o transformam em um dos candidatos ideais para a renovação no meio campo. A outra vaga destinada a um meio campista mais defensivo fica com Tom Krauss (21), atualmente emprestado ao Schalke. Ele tem menos qualidade com a bola no pé, mas também é bem competente no trabalho defensivo e gosta do confronto direto com seus adversários.
Anton Stach (24, Mainz) é outro nome em evidência no futebol alemão e que tem pleiteado uma vaga na seleção principal. Uma das revelações da temporada passada, Stach se destaca ao conduzir a bola em direção ao ataque e já chegou a receber uma convocação de Hansi Flick. Angelo Stiller (21, Hoffenheim) é outro nome interessante pela capacidade de construção aliada ao drible, mas deixa a desejar no combate físico. Dois nomes do Borussia Mönchengladbach merecem atenção (Weigl, 27 e Neuhaus, 26), mas não estou confiante de que algum deles recupere seu melhor futebol a ponto de merecerem uma chamada à Alemanha. O mesmo vale para Arne Maier (23), parceiro de Dorsch no Augsburg e na Alemanha campeã na EURO sub-21.
Ofensivamente, Florian Wirtz (19) é um nome óbvio para fazer companhia a Jamal Musiala. Recuperado recentemente de uma grave lesão no ligamento cruzado do joelho, Wirtz era um dos melhores jogadores em atividade na Bundesliga antes de se lesionar e deve ser titular da seleção em breve, caso evite novos problemas físicos.
Ainda pelo centro do campo, Tom Bischof (17, Hoffenheim) surge como um possível nome, sendo um meia criativo e de bom passe - ele fez sua estreia como profissional aos 16 anos e acredito que deva se firmar nos próximos anos, mas a Copa de 2026 provavelmente deve chegar muito cedo para ele, a menos que tenha uma ascensão meteórica. Situação semelhante vive Paul Wanner, outra grande promessa do Bayern, que não tem tido muitos minutos no clube por conta da grande concorrência. Wanner ainda é dúvida por estar sendo sondado fortemente pela seleção da Áustria: existe a possibilidade de que ele acabe mudando de seleção.
ATACANTES
O ataque é outra área problemática: no cenário alemão e mundial, a formação de jogadores acompanhou a tendência atual e centroavantes mudaram um pouco seu estilo, tornando-se cada vez mais móveis e abandonando a imagem de um jogador mais forte fisicamente e com boa presença de área. A Alemanha tem vários jogadores com esse perfil, mas nenhum goleador realmente confiável. Jonathan Burkardt (22, Mainz), Lukas Nmecha (24, Wolfsburg) e até mesmo Moukoko são nomes que poderiam ser citados nessa categoria. Kevin Schade (21, Freiburg) e Jan Thielmann (20, Köln) costumam atuar como pontas, posição em que a Alemanha está bem servida - os dois já mostraram potencial na própria Bundesliga, mas correm por fora devido a forte concorrência. Além deles, Hansi Flick deve contar com o retorno de Timo Werner (26, RB Leipzig), jogador que aprecia bastante. Mantendo um bom nível na Bundesliga, me parece muito provável que siga no elenco da Alemanha.
No entanto, vimos o impacto que um jogador mais físico causou na Copa (Füllkrug é um bom exemplo) e eles podem voltar a ganhar espaço na elite do futebol. Havertz, por exemplo, rende melhor quando atua ao lado de um jogador assim. Poucos nomes de destaque na base alemã tem essas características: Nelson Weiper (17, Mainz) é o mais completo deles. Ele tem boa mobilidade apesar da altura (1.92m), consegue se associar com seus companheiros ao receber de costas para a gol, tem bom jogo aéreo e qualidade ao finalizar. É uma aposta, uma vez que Weiper tem apenas 4 minutos disputados na Bundesliga (fez sua estreia em outubro), mas diante da falta de um jogador com suas características pode ganhar espaço caso consiga um lugar na equipe titular do Mainz pelos próximos anos.
Resultado final
O elenco completo para a Copa do Mundo de 2026 ficou assim:
De maneira geral, é um elenco com um potencial alto. A possibilidade de ter nomes como Wirtz e Musiala juntos empolga, ainda que não existam garantias sobre a presença de um goleador confiável. Se tudo correr bem, como esperamos, devem chegar em 2026 como nomes consolidados na elite do futebol. A Copa do Qatar deixou lições valiosas para Hansi Flick: seu desafio agora é combinar o poderio ofensivo com uma solidez defensiva maior. Feito isso, a Alemanha pode voltar a sonhar alto no Mundial.
Esse texto reflete a opinião de seu autor e não da equipe Fussball Brasil como um tudo.
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