O início de temporada do Freiburg tem chamado a atenção pela Europa: superando as expectativas iniciais, o clube do sudoeste da Alemanha ocupa atualmente a 3a posição na tabela e se destacou por ser a última equipe da Bundesliga a sofrer uma derrota no campeonato nacional. Foram 10 rodadas de invencibilidade, até enfrentar o Bayern na Allianz Arena e vender caro uma derrota por 2-1. Como não poderia deixar de ser, alguns jogadores tem se destacado nessa bela campanha do Freiburg, sendo um deles o jovem zagueiro Nico Schlotterbeck.
Histórico
Ele estreou na Bundesliga sub-17 meses antes de completar 16 anos e também deu um salto rápido para a categoria sub-19: já participava de jogos nesse nível quando tinha apenas 16 anos, pelo Karlsruher. Tamanho potencial não passou despercebido e Nico foi recompensado em 2017 com uma transferência para o Freiburg, onde venceu a DFB Cup sub-19. Ele faria sua estreia como profissional e seu primeiro jogo como titular na temporada 18/19 e seria parte integrante do elenco principal em 19/20. As oportunidades, no entanto, se tornaram mais escassas e ele precisava jogar mais para seguir seu desenvolvimento.
A temporada 20/21 chegou e, agora com 20 anos, Schlotterbeck foi emprestado ao Union Berlin, no que seria a segunda temporada do time da capital na elite do futebol alemão: essa passagem contribuiu para o amadurecimento do jovem zagueiro, que, apesar de ter sofrido uma lesão que o tirou do começo da temporada, assumiu o posto de titular e ajudou o clube a conquistar uma classificação histórica para a UEFA Conference League. Também foi uma temporada de sucesso a nível continental para Schlotterbeck: após passagens por todas as categorias de base da seleção, o zagueiro foi titular absoluto e disputou todas as partidas na campanha vitoriosa da Alemanha na prestigiada Euro U21.
De volta ao Freiburg, Nico Schlotterbeck é agora um dos pilares do time, tendo disputado todas as 11 partidas do clube na atual edição da Bundesliga. Suas atuações, combinadas ao sucesso na Euro U21, chamaram a atenção de Hansi Flick, que o convocou para a seleção principal pela primeira vez em setembro - ele ainda não chegou a jogar, mas certamente não vai demorar muito.
Nesse texto, vamos abordar um pouco de suas características, pontos fortes/fracos e o que ele precisa melhorar para se tornar um zagueiro ainda melhor.
Como joga?
Na atual temporada, o Freiburg de Christian Streich tem alternado entre duas formações base: 4-4-2 e 3-4-3. Nico Schlotterbeck atua como zagueiro pela esquerda nas duas situações.
Salto para pressionar
Alguns de seus comportamentos defensivos se mantém nas duas formações: Schlotterbeck é um zagueiro agressivo, que está constantemente buscando um duelo contra seu adversário. Isso significa que ele costuma subir para pressionar quando a bola vem ao lado esquerdo, se movimentando horizontalmente e verticalmente. Nas imagens abaixo, podemos observar como ele salta de sua posição "original" para fazer uma vigilância mais próxima ao adversário presente em seu setor.
Essa pressão exercida por ele costuma trazer bons resultados ao Freiburg: dentre os 397 zagueiros presentes nas 5 principais ligas da Europa (mínimo de 6 jogos completos na temporada), Schlotterbeck está na faixa dos 20% mais bem sucedidos em ações de pressão (dados do fbref). Ajuda nisso o fato dele ser competente no desarme: ao verificar a taxa de sucesso de seus desarmes contra tentativas de dribles, temos outro bom resultado: ele vence 64% desses duelos.
Força pelo alto
Zagueiro alto (191 cm), Schlotterbeck também tem qualidade no jogo aéreo. Dentre os defensores da Bundesliga (mínimo de 5 partidas), ele ocupa a vigésima sétima posição de 93 possíveis, com um aproveitamento de 63,83%.
Movimentação ofensiva
Ao jogar em um esquema com 3 zagueiros (tem sido o mais comum do Freiburg na temporada), Schlotterbeck tem maior liberdade para contribuir ofensivamente do que ao jogar em dupla de zaga. Günter, ala pela esquerda e Grifo, ponta esquerda, tem um bom entendimento com o zagueiro, e o trio é capaz de interpretar bem as ações de seus companheiros, sendo capazes de ocupar espaços próximos à linha lateral ou centrais. Nos exemplos abaixo, Schlotterbeck avança pela linha lateral, atraindo um marcador, enquanto Günter infiltra pelo meio para receber o passe nas costas da defesa (1); e se aproveita do posicionamento de Grifo e Günter (próximo a linha lateral, fora da imagem) para explorar o espaço que foi gerado no meio (2).
Ponto a melhorar
Embora os números mostrem que Schlotterbeck tenha um sucesso considerável ao subir para pressionar seus adversários, nem tudo são flores. Em muitas situações, ele chega levemente atrasado para a dividida, permitindo ao atacante um milésimo de segundo a mais que pode ser explorado por jogadores da elite mundial - foi o que aconteceu no lance abaixo contra o Bayern: Kimmich recebe um passe de Upamecano e aproveita o espaço naquela fração de segundo para tocar de primeira para Müller, iniciando uma jogada que resultou em finalização.
No lance abaixo contra o Hertha Berlin, Schlotterbeck subiu para acompanhar seu adversário, a jogada seguiu pelo outro lado do campo, ele não teve a velocidade e/ou a percepção necessária para se recuperar no lance e Piatek acabou marcando o gol a partir de uma finalização na zona em que o zagueiro deveria cobrir. Segundo os dados oficiais da Bundesliga, Schlotterbeck registrou uma velocidade máxima de 33.38km nessa temporada, sendo apenas o 121° jogador da lista. É uma velocidade máxima considerável para alguém tão alto, mas insuficiente para perseguir vários atacantes da liga. Ao aperfeiçoar seu timing para pressionar, ele poderia fazer valer seus pontos fortes sem dar espaço a suas fraquezas - melhorando isso, ele estaria mais próximo do nível dos zagueiros da elite mundial.
Schlotterbeck é um jovem zagueiro de enorme potencial e já mostrou estar evoluindo cada vez mais. O Freiburg promete seguir forte na briga por uma vaga em competições continentais e ele é um dos pilares desse belo time. Mantendo seu nível, uma vaga como titular na seleção principal e uma transferência para um grande europeu parecem ser os próximos passos.
1 Comentários
Muito boa a análise, parabéns.
ResponderExcluirEsse moleque tem muito futuro mesmo.