Da luta contra o rebaixamento ao sonho da Europa
Ao final do primeiro turno da Bundesliga 20/21, o Mainz parecia fadado ao rebaixamento. Vice-lanterna, o time tinha apenas 7 pontos, a mesma pontuação do Schalke 04 naquela altura do campeonato - a distância para a 15a posição era de 10 pontos. A permanência na primeira divisão era tão improvável que apenas um clube na história tinha sido capaz de reverter uma situação como essa: o Eintracht Frankfurt de Felix Magath, em 1999/2000.
Aí entra em cena Bo Svensson. O dinamarquês de apenas 42 anos, que teve passagens pelo Mainz como jogador (2007-2014) e como treinador de base (2015-2019), começava sua carreira como treinador profissional no Liefering, clube-satélite da Red Bull na Áustria. Ao receber o convite do clube alemão, decidiu voltar ao país, assumindo o clube na 15a rodada - sob seu comando, os carnavalescos conquistaram 33 pontos em 20 rodadas, garantindo a permanência com um jogo de sobra.
Como joga o Mainz?
Ao chegar, Bo Svensson mudou logo o esquema base do Mainz, saindo de um 4-2-3-1 para um 3-1-4-2. Essa mudança contribuiu principalmente para a melhora defensiva do time: até a 15a rodada, eram 2.2 gols sofridos por jogo, número que caiu para 1.2 nos jogos restantes da temporada - o modelo estatístico dos expected goals (xG, quantifica de 0 a 1 a probabilidade de cada finalização resultar em gol) também confirma essa impressão, sendo esperados 1.9 gols sofridos por jogo antes da chegada do novo treinador, contra 1.3 depois: efetivamente, isso significa dizer que agora seus adversários finalizavam menos e/ou com menos qualidade.
Na atual temporada, após 6 partidas, os números são ainda melhores: o Mainz tem a melhor defesa da competição, em gols sofridos (3) e xGA (expected goals against). Em média, são esperados apenas 0,75 gols por jogo contra sua meta (dados do understat.com).
Consistência defensiva
Durante sua fase defensiva, ou seja, quando não tem o domínio da bola, o Mainz se estrutura em um 5-3-2 bastante compacto, contando com a presença dos alas na primeira linha de marcação, um trio de meio campistas na segunda linha e os dois atacantes mais à frente. Ao proteger bem a entrada da área, a equipe induz seus adversários a jogar pelas laterais do campo, afastando-os de seu próprio gol.
Ainda nessa estrutura, alguns comportamentos se destacam:
o trio de meio campistas se desloca lateralmente de acordo com o setor da bola para pressionar - dessa forma, além de manter a entrada da área protegida, é possível utilizar a linha lateral do campo para reduzir ainda mais o espaço disponível ao jogador em posse da bola;
ao perceber um passe na direção do jogador adversário próximo a linha lateral, o ala do Mainz avança para pressioná-lo. Combinadas, essas duas ações reduzem consideravelmente o tempo e o espaço disponível para o adversário, dificultando sua progressão no campo.
Esse tipo de comportamento dos alas também se mostra presente quando o Mainz avança suas linhas para pressionar a saída de bola adversária.
Jogo direto
Ofensivamente, a equipe de Bo Svensson tem se caracterizado por ser um time bastante direto. O gráfico abaixo apresenta o número médio de passes por sequências (jogadas feitas por um único time, encerradas em ações defensivas, finalizações ou interrupções de partida) pela velocidade direta (medida do quão rapidamente um time progride com a bola pelo campo, em metros por segundo):
Com uma média de 2.25 passes por sequência e uma velocidade direta de 2.27, o Mainz se apresenta como a equipe mais vertical do campeonato, até aqui. Dessa forma, é normal que o time tenha a bola longa como uma de suas principais alternativas para construir e que a maioria de seus ataques sejam transições ofensivas bem rápidas. Após um lançamento, os alas e o trio de meio campistas avançam para aproveitar uma bola escorada pelos atacantes ou até mesmo para duelar pela segunda bola, caso a defesa adversária vença o duelo.
O estilo de jogo direto do Mainz pode ser observado facilmente na maneira como a equipe busca verticalizar suas jogadas assim que retoma a posse de bola, seja em seu próprio campo ou no campo adversário.
Nas raras ocasiões em que a equipe se estabelece em campo contrário e tenta construir uma jogada de maneira mais lenta, são os dois alas que oferecem amplitude, avançando no terreno e permanecendo próximos a linha lateral para abrir a defesa adversária, enquanto os meio campistas permanecem numa posição mais central.
O sonho da Europa
Passadas 6 rodadas, o Mainz ocupa a sexta colocação na tabela, posição que lhe daria o direito de disputar a Conference League - situação bem diferente do cenário de briga contra o rebaixamento na temporada passada. Apesar dos inícios vacilantes de equipes como Eintracht Frankfurt, Borussia Monchengladbach e RB Leipzig, a concorrência pelas vagas europeias promete ser dura. Com uma equipe extremamente competitiva, o Mainz se candidata a brigar por uma dessas vagas, mesmo que seu elenco não esteja a altura dos oponentes.
Depois de Jürgen Klopp e Thomas Tuchel, dois campeões europeus, será Bo Svensson o próximo grande nome a sair do Mainz 05?
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