As contratações de Upamecano, Sabitzer e Julian Nagelsmann reacenderam um antigo debate: o Bayern de Munique é um clube "predador"? A prática de contratar um jogador de um clube concorrente tem sido tratada assim, ainda que seja algo bastante comum no meio do futebol. Visando responder essa questão, fiz uma pesquisa envolvendo as contratações realizadas nas últimas 10 temporadas do futebol alemão, já contando com a janela atual.
A ideia da pesquisa é quantificar o número de "desfalques" que cada clube conseguiu gerar em seus adversários vigentes. Antes de ir aos resultados, algumas observações sobre o que foi feito para otimizar esse processo:
- apenas os clubes que participaram de ao menos 5 edições (50%) da Bundesliga neste período foram incluídos
- foram consideradas válidas apenas transferências definitivas entre clubes que disputaram a mesma edição - isso exclui empréstimos e reforços de times que foram rebaixados, por exemplo
- também não considerei reforços de times B ou categorias de base, a menos que o jogador tenha participado de algum jogo com a equipe principal anteriormente
- como alguns times disputaram menos edições, usei um valor médio para melhor comparar
- as transferências e seus valores foram extraídos do site Transfermarkt
A lista completa com os reforços de cada clube, por temporada, você confere clicando aqui.
No período analisado, o clube que mais extraiu jogadores de seus concorrentes foi o Hamburgo, com uma média de 2,5 reforços por temporada. Na sequência, temos Borussia Dortmund (2,4), Augsburg, Eintracht Frankfurt e Wolfsburg (2,3).
Em relação ao gasto de cada clube, o Borussia Dortmund aparece no topo: os aurinegros gastaram, em média, por volta de 15,07 milhões de euros por jogador e 36,17 milhões de euros por temporada para buscar jogadores em seus concorrentes. O Bayern acompanha de perto nas duas listas, tendo investido €10,41M por jogador e €20,82 por temporada - cabe notar aqui que o clube bávaro se beneficiou de algumas transações a custo zero para reduzir esse valor médio: nas últimas 10 janelas, 8 jogadores chegaram dessa forma, Goretzka e Nübel sendo os dois mais recentes. Destaque também para o Wolfsburg, que investiu cerca de €20,28M por temporada para realizar esse tipo de movimentação.
Os lobos, aliás, seguem com a contratação mais cara dos últimos anos: para tirar Julian Draxler do Schalke 04, foram necessários incríveis 43 milhões de euros. Bayern e Borussia Dortmund dominam a lista dos 10 reforços mais caros desse período, que tem o Bayer Leverkusen como intruso - foram 32 milhões de euros para contratar o meio campista Kerem Demirbay, ex-Hoffenheim.
Ao cruzar os dados da pesquisa, temos o seguinte gráfico (quanto mais a direita, maior o número de reforços. Igualmente, quanto mais acima, maior o gasto):
Embora o Bayern seja tradicionalmente tratado como o grande predador da liga alemã, os dados recentes não corroboram com essa afirmação - afinal, ele é apenas o sétimo (empatado com Hoffenheim e Stuttgart) clube da lista em quantidade média de reforços provenientes de seus rivais de divisão e também não é quem mais gasta, apesar de ter um poderio financeiro consideravelmente maior que seus concorrentes. Por outro lado, seu grande rival nas últimas disputas pelo título, o Borussia Dortmund, aparece bem colocado nas duas métricas, indicando um nível maior de predatismo, caso optemos por tratar essa prática assim. A diferença entre os clubes envolvidos na pesquisa não parece justificar que um único clube seja merecedor dessa alcunha, no entanto, pois são vários aqueles que estão relativamente bem próximos.
Ainda cabe um debate sobre os problemas dessa prática (é de fato um problema?) e possíveis soluções para tal, mas isso envolveria uma discussão mais complexa sobre a "cadeia alimentar" do futebol, o funcionamento do mercado de maneira geral e até mesmo a cultura de cada país e liga nacional - fica como assunto para outro texto.
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