Para além do jogo. É assim que Leon Goretzka pensa a vida. Seu trabalho é o futebol, mas seu papel, como cidadão, ultrapassa as quatro linhas. Em entrevista para a Welt am Sonntag, o meio-campista do Bayern falou sobre racismo e atacou o partido de extrema direita alemão, AfD
Foto: Mario Hommes/DeFodi Images via Getty Images |
Não se encontra bons jogadores em cada esquina. Mas jogadores que se posicionam politicamente, isto é ainda mais raro. Leon Goretzka é uma exceção. Diante de problemas, Goretzka se posiciona. Para enfrentar a pandemia, o camisa 18, criou, juntamente com Joshua Kimmich, o projeto “We Kick Corona”, que ajudou cerca de 600 projetos sociais em toda a Alemanha. Sua iniciativa foi, inclusive, premiada pelo Bayerischer Sportpreiss, uma premiação organizada pelo Governo da Baviera.
Na sua mais recente entrevista, para a Welt am Sonntag, Goretzka foi ainda mais assertivo sobre alguns problemas que afligem não só a Alemanha, mas o mundo todo. Diante da ascensão de um partido de extrema-direita, que vem angariando muitos adeptos no seu país, o meio-campista do Bayern disse que a crise do Coronavírus deixou ainda mais claro quem é a AfD (em português, Alternativa para a Alemanha). Para o bávaro, eles não são uma alternativa para a Alemanha, e sim uma pena para a Alemanha.
A AfD é o principal partido da extrema-direita alemã. Criado em 2013, o partido não demorou muito para alcançar altos índices de popularidade, muito por conta da sua campanha anti-imigração. Com um discurso bélico, repleto de racismo e xenofobia, a AfD se tornou a representação do neonazismo alemão. Recentemente, um dos seus principais representantes, Christian Lüth, afirmou que imigrantes deveriam ser mortos a tiros ou a gás. Depois disso, Lüth foi expulso do partido, mas nomes como Björn Höcke continuam a fazer da AfD o pior cenário possível para a Alemanha e para os alemães. É Höcke, inclusive, que lidera uma guinada ainda mais para a direita, encarnando um discurso extremamente semelhante ao do Terceiro Reich.
Sem temer o que os seus comentários poderiam gerar, o internacional alemão afirmou que as agressões dirigidas a ele por apoiadores da AfD apenas reforçam o seu posicionamento. Para o meia de 25 anos, é preciso se posicionar, resistir e mostrar as pessoas que elas não estão sozinhas em seu enfrentamento.
Apesar de ter ganhado mais destaque ultimamente, a luta de Goretzka não é recente. Já há algum tempo que o jogador do Bayern vem utilizando o seu alcance para se posicionar e para fazer com que as pessoas se questionem, como ele mesmo disse.Além das críticas a AfD, Leon aproveitou a entrevista para reafirmar qual é a sua principal luta: a antirracista. Para Goretkza, o racismo não pode ser ouvido nem tolerado. Diante do racista e do racismo é preciso ter uma opinião clara.
“É preciso lutar contra esse movimento para melhorar algo. Temos que deixar claro para as pessoas que vivemos em uma democracia que não pode ser quebrada por ninguém nem por nada”. Essas são as palavras de um atleta que ultrapassou os gramados e se tornou voz ativa contra o neonazismo e o racismo. Se seus pés produzem gols, sua boca produz luta. O enfrentamento promovido e incentivado por Goretzka é um dever humano. Ele é dele, assim como é seu. Ver um atleta, que tem tamanha influência sobre jovens, se posicionar de maneira tão clara e assertiva contra dois dos maiores males da humanidade, é encorajador.
Todos nós podemos ser como Goretzka, independentemente se seus pés produzem a mesma arte que os deles. Mais importante que a bola, é a vida. E Goretzka entende isso. A luta nunca é solitária. Para Goretzka, é necessário investir na educação, principalmente na geração mais jovem, e garantir justiça social para os que se sentem social e financeiramente deixados para trás. A fala de Leon pode ser sobre a sua realidade, a Alemanha, mas ela também serve para o Brasil.
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