O lateral brasileiro Dedê discute com Michael Ballack em um clássico em 2004 (Getty) |
Enquanto o final dos anos 50 e começo de 60 marcaram o período de maior sucesso do Dortmund - até a chegada dos anos 90 -, Bayern e Gladbach digladiaram pelo posto de soberano nos anos 70, período que coincidiu com o pior momento da história do BVB. O clube aurinegro chegou a passar quatro anos jogando a segunda divisão e foi, também, quando sofreu os seus piores revés: 12 a 0 ante o Gladbach, em 1978, e 11 a 1 ante o Bayern, em 1971.
As coisas começaram a mudar para o Dortmund a partir da DFB-Pokal de 1988/89, quando a equipe de Horst Köppel bateu o Bremen de Rehhagel na decisão e deu fim a um jejum de 24 anos sem conquistas, que também garantiu uma vaga para disputa da Supercopa da Alemanha de 1989 contra o Bayern - foi a primeira vez que se encontraram em uma final. Na ocasião, as abelhas levaram a melhor e faturaram o troféu.
Com a chegada de Ottmar Hitzfeld, em 1991, o Borussia Dortmund atingiu seu ápice. Na primeira temporada de Ottmar, inclusive, os aurinegros venceram os dois duelos contra o Rekordmeister, pela Bundesliga, por 3-0, e terminaram com o vice-campeonato, enquanto o Bayern ficou apenas em décimo - o segundo pior desempenho do clube na competição.
Em 1995, o BVB conquistaria seu primeiro título de Bundesliga e, em 1996, o segundo - com os Bávaros terminando em sexto e segundo, respectivamente. O Bayern voltaria a vencer a Bundesliga em 1997, enquanto o time de Hitzfeld alçaria um voo maior: a conquista da Liga dos Campeões... no Estádio Olímpico de Munique, casa do Bayern.
Pouco mais de um mês antes de levar o troféu mais cobiçado do continente para casa, o Dortmund recebeu o Bayern no Westfalenstadion para realização da 28ª rodada da Bundesliga - o jogo tinha lá sua importância para disputa do título da Bundesliga, mas acabou ficando marcado mesmo por um lance envolvendo os lendários Lothar Matthäus e Andreas Möller, onde Matthäus fez um gesto de choro em direção a Möller, que reclamara da não-marcação de uma falta, para chamá-lo de "bebê chorão" - por sua vez, o camisa dez aurinegro "enxugou" as lágrimas de Matthäus, colocando as suas mãos no rosto do craque dos Bávaros.
A "trama" ganhou novos capítulos em 98, quando as equipes se encontraram pela primeira vez em um mata-mata de Liga dos Campeões - o Dortmund levou a melhor na ocasião - e Hitzfeld trocou Dortmund por Munique para ser técnico do Bayern. Hitzfeld já não era mais o treinador do BVB quando decidiu sair - após a conquista da Liga dos Campeões, o alemão deixou o comando técnico e assumiu um cargo na direção.
O primeiro reencontro de Hitzfeld com a torcida aurinegra, no Westfalenstadion, foi épico. Com 36 minutos de jogo, o BVB já vencia por 2-0 e o Bayern já estava com um a menos em campo. No segundo tempo, foi o Dortmund quem teve jogador expulso e os Bávaros foram atrás do resultado - inclusive, com direito a pênalti defendido pelo Titã. Aliás, Oliver Kahn foi o grande personagem da partida: além de evitar a derrota, o ex-goleiro protagonizou alguns dos lances mais lembrados de sua carreira neste jogo. Ainda no primeiro tempo, Kahn deu mordidinha na bochecha de Heiko Herrlich, um "golpe de kung-fu" em direção a Stéphane Chapuisat, seguido de um puxãozinho na orelha de Andreas Möller. O empate ampliou a vantagem do Bayern na ponta da tabela de 14 para 15 pontos, enquanto o Borussia Dortmund só chegou ao quarto lugar. Ao final da temporada, os Bávaros confirmaram o título com os 15 pontos de frente sobre o Bayer Leverkusen e 21 pontos ao BVB.
Os ânimos voltaram a fluorescer em 2000/01. Comandado por Matthias Sammer, o Borussia Dortmund não fez frente ao Bayern na temporada da Bundesliga, porém, os dois jogos com os Bávaros, pela competição, renderam capítulos históricos para o clássico. O primeiro jogo, disputado no Estádio Olímpico, terminou em goleada do Bayern por 6 a 2 - até então, era o maior placar desde o 11-1. Já no segundo duelo, em Dortmund, a pancadaria rolou solta. Não à-toa, o jogo foi batizado de "o mais sujo da Bundesliga". Catorze cartões amarelos foram distribuídos, sendo 12 para jogadores do Bayern - somente Roque Santa Cruz e Patrik Andersson não levaram cartão pelo lado bávaro (Bixente Lizarazu levou dois e foi expulso antes do intervalo!) - e 3 jogadores foram expulsos. Na temporada seguinte, o Dortmund interrompeu a sequência de três conquistas do Bayern e voltou a faturar a Meisterschale após seis anos.
Mas, uma bomba estouraria em 2004. Com dívida de mais de 120 milhões de euros, o Dortmund esteve à beira da falência e se viu obrigado a se desfazer de atletas e, até mesmo, dos namings rights de seu estádio, o Westfalenstadion. O caso se tornou público mesmo em meados de 2005, embora o calvário aurinegro já viesse de mais tempo - inclusive, o clube chegou a hipotecar seu estádio, em 2002, e a receber um empréstimo de 2 milhões de euros do Bayern, em 2004. O dinheiro emprestado pelos Bávaros passou longe de ser a salvação, afinal, a dívida era muito maior, mas ajudou a pagar parte dos salários dos jogadores, que já haviam aceitado um corte de 20%, a primeiro momento.
“Era uma situação crítica para o Borussia Dortmund. Quando eles não podiam pagar seus salários, pensamos que podíamos ajudar. Sou um grande fã da tradição no esporte e era o certo a se fazer”
Uli Hoeness, ex-presidente do Bayern
Até se reestruturar novamente, a ponto de voltar a rivalizar pelo título da Bundesliga, sob o comando de Jürgen Klopp, o Dortmund sofreu muito na mão do Bayern. Entre as temporadas 2004/05 e 2009/10, os aurinegros só triunfaram uma vez contra os Bávaros, que venceram 8 dos 15 jogos realizados no período - incluindo uma final de Copa da Alemanha (a primeira entre eles), decidida com gol de Luca Toni na prorrogação.
Quando Klopp assumiu o cargo, em 2008, o Dortmund vinha de um décimo terceiro lugar na temporada anterior - desde a década de 80, o clube não obtinha um resultado tão ruim na Bundesliga. O cenário não era bom, mas o time se tornou competitivo sob as ordens de Klopp, e os frutos passaram a ser colhidos: em 2011, o BVB voltou a ser campeão da Bundesliga - botando 10 pontos de vantagem em relação ao Bayern (que terminou em terceiro) - e prevaleceu nos dois jogos contra os Bávaros: venceu ambos - o que não conseguia desde a temporada 1991/92, quando fez 3-0 nos dois encontros.
Em 2012, o Dortmund sagrou-se bicampeão da Bundesliga e, pela primeira vez, conquistou o doblete doméstico, batendo o Bayern na final da Copa da Alemanha, com direito a goleada por 5 a 2 (a maior vitória sobre o FCB desde um 6-3 em 1967) e hat-trick de Lewandowski. Os outros dois encontros pela Bundesliga, também terminaram em vitórias do clube aurinegro, que, até então, nunca havia vencido cinco jogos seguidos contra os Bávaros.
Mas, a soberania do Dortmund durou pouco. O Bayern fez os aurinegros de gato e sapato em 2012/13. Logo na abertura da temporada, na Supercopa, os Bávaros quebraram a sequência de vitórias do rival, impondo o primeiro dos três vices que o Dortmund teria. O Bayern ainda eliminaria o BVB nas quartas da DFB-Pokal, com gol de Arjen Robben, que também seria o herói da final da Liga dos Campeões alguns meses depois. Na Bundesliga, os dois jogos terminaram em empate por 1-1, mas, o nível de excelência da equipe de Heynckes foi tamanha, que o título veio com 25 pontos de vantagem e só uma derrota (para o Leverkusen).
Os caminhos que levaram Bayern e Dortmund a Wembley foram completamente diferentes, mas, ambos chegaram lá com muita justiça. Enquanto o Dortmund correu sérios riscos de ficar pela estrada, nas quartas de final, ante o Málaga, o Bayern teve "vida tranquila" em todas as fases - mesmo contra o Arsenal, ainda nas oitavas, quando garantiram a vaga pelos gols marcados fora de casa, os Bávaros não tiveram tamanho perigo de ficar de fora da competição.
Mesmo sem Mario Götze, lesionado, o Dortmund foi valente e deu muito trabalho a Manuel Neuer, principal figura da primeira etapa, ao mesmo tempo que Roman Weidenfeller também fora muito acionado do outro lado, mas, ninguém conseguiu marcar. Na segunda etapa, o ritmo intenso de ambas equipes seguiu e os gols, enfim, saíram: aos 60 minutos, Mandzukic abriu o placar para o Bayern e aos 68, Gündogan empatou, de pênalti. Após o 1-1, o Bayern criou várias outras chances para vencer, mas não as conseguiu converter - em menor escala, o BVB também teve suas oportunidades, e não as aproveitou. Quis o destino que, aos 86, quando todo mundo esperava que o jogo fosse para prorrogação, Arjen Robben fizesse o gol do título, em uma jogada magistral.
Apenas uma semana depois de conquistar a orelhuda pela 5ª vez, o Bayern derrotou o Stuttgart por 3 a 2 na final da DFB-Pokal e se tornou o primeiro time alemão a vencer a tríplice coroa no futebol masculino, feito que só seria repetido 7 anos mais tarde, pelo próprio Bayern.
Desde a final da Liga dos Campeões de 2013, Bayern e Dortmund se enfrentaram 25 vezes. Dominante, o Bayern levou a melhor em 16 destes confrontos, incluindo 5 finais, duas de Copa da Alemanha e três de Supercopa. Já o Dortmund venceu oito, sendo três pela Supercopa da Alemanha. Ao mesmo tempo que o Bayern é o time que mais marcou (200 gols) e venceu (48 vezes) o Dortmund em jogos válidos pela Bundesliga, o BVB é, junto ao Colônia, o clube que mais venceu derrotou o Gigante da Baviera, pela competição, em jogos realizados em Munique, com 9 triunfos.
Apesar de ser um duelo que não envolve aspectos sociais ou políticos e tenha começado a ganhar força só durante a década de noventa, o Klassiker, hoje, está acima de qualquer outro jogo que o futebol alemão pode oferecer - embora o Revierderby seja o que reúne a maior rivalidade e aspectos que estrapolam as quatro linhas, não há como comparar com o nível de atração do duelo entre Bayern e Dortmund.
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