Desconhecido para a maioria, o ex-zagueiro é a personificação da gloriosa história da SGE
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Karl-Heinz "Charly" Körbel nasceu e começou a trilhar seu caminho no esporte no pequeno município de Dossenheim, em Baden-Württemberg. Ingressou nas divisões de base do modesto Sportfreunde Dossenheim aos 8 anos e saiu aos 17, em junho de 1972, para se transferir ao Eintracht e começar a traçar o seu legado dentro do futebol nacional.
Fez o primeiro jogo com o uniforme rubro-negro quatro meses depois, contra o Bayern de Lattek. A princípio, nem relacionado à partida seria. Todavia, coube a Eric Ribbeck (técnico do Frankfurt) recorrer ao jovem por conta de uma infeliz lesão de Friedel Lutz, titular absoluto da equipe, na última sessão de treinamento para o jogo - a qual Körbel não participou porque não tinha sido relacionado para o confronto. Ribbeck ligou para seus pais para convocar o garoto para a partida e Körbel estava em um campo de futebol com os amigos no momento da ligação, então seu pai teve de buscá-lo correndo para o levar ao hotel onde o time ficaria concentrado. Na noite anterior ao jogo, Ribbeck lhe confiou a missão de parar Gerd Müller. O Eintracht, felizmente, venceu a partida por 2–1 e Körbel teve uma estreia digna de elogios, apesar de o Bomber ter deixado sua marca e ficado em boas condições de marcar em outras duas ou três oportunidades.
Gradualmente foi ganhando espaço na equipe e, na temporada seguinte (73/74), passou a ser titular absoluto. Firmado como pilar na defesa, ajudou o clube a conquistar seu primeiro título de Copa.
O Frankfurt tinha um grande time, nomes como Jürgen Grabowski, Bernd Hölzenbein, Bernd Nickel e Wolfgang Kraus compunham o elenco daquele ano. Apesar disso, a caminhada à glória foi complicada. O Eintracht teve que jogar duas prorrogações (por ceder o empate após os 70 minutos), contra o Colônia de Wolfgang Overath, nas quartas de final, e contra o Hamburgo, na final. Ainda teve pelo caminho Tennis Borussia Berlin (1.ª fase) - único jogo em que Körbel não atuou - , Hessen Kassel (2.ª fase) e Bayern (semifinal).
O espetacular encontro contra o Colônia de Overath ficou marcado pelas grandes atuações de Hölzenbein e do próprio Overath, que até então não havia balançado as redes na competição e, neste confronto, fez dois gols. Diminuiu quando a SGE vencia por 2–0 e empatou quando estava 3–2, já na prorrogação, no entanto, não foi o bastante e, ao mais tardar, Hölzenbein definiu a partida com seu terceiro gol. Contra o Bayern, outro embate memorável. O Eintracht saíra ganhando aos 49, mas os bávaros saltaram à frente com tentos aos 60 e aos 62, forçando o Eintracht a buscar uma nova reviravolta, que, é claro, aconteceu. A virada das Águias calhou aos 45 segundo tempo, com gol de pênalti de Jürgen Kalb. Na finalíssima, os heróis foram Trinklein, Hölzenbein e Kraus, que marcaram um gol cada e deram ao Eintracht seu primeiro grande trunfo desde o título do Campeonato Alemão de 1959 e o vice da Copa dos Campeões de 1960.
Foi algo muito especial para mim, como jovem jogador, segurar o troféu pela primeira vez. Foi também o primeiro jogo meu que foi exibido ao vivo na TV. Naquele dia, o estádio também estava com uma atmosfera incrível criada pelos nossos torcedores, Körbel sobre a primeira conquista da DFB-Pokal.
A dose foi repetida no ano seguinte, com a conquista do bicampeonato. Körbel teve papel ainda mais épico nesta segunda conquista: de seus pés veio o solitário gol do título contra o Duisburg, no Niedersachsenstadion (HDI Arena), em Hannover.
Por melhores que fossem seus elencos, o Eintracht alcançava, no máximo, terceiras e quartas colocações na Bundesliga, ao mesmo tempo que dividia o protagonismo com as Copas, realizando boas campanhas em noites europeias, até mesmo conquistando uma Copa UEFA, em 1980, e novamente a Pokal, em 81. Antes da glória maior na Europa, esteve a dois jogos de conquistar a Recopa - caiu na semifinal para o West Ham, após ter vencido a partida de ida, no Waldstadion.
A aventura europeia do Eintracht reservou grandes duelos contra Aberdeen de Alex Ferguson, Dinamo Bucareste e ainda maiores ante Bayern e Gladbach, em semi e final, respectivamente. O grande aliado da SGE nesta trajetória foi, fielmente, o seu estádio. Lá, vencera todos as eliminatórias, enquanto longe de seus domínios nada conseguira, além de um empate com o Aberdeen, na primeira fase. A decisão contra os Potros foi épica. O time comandado pelo recém-aposentado, das quatro linhas, Jupp Heynckes, e com um jovem Lotthar Matthäus no meio-campo, venceu o primeiro jogo no Bökelbergstadion (antigo estádio do Borussia) por 3–2, mas no segundo jogo, no Waldstadion acabou castigado, aos 81 minutos, por Fred Schaub, que havia entrado 4 minutos antes, e perdeu o título para o Eintracht de Körbel.
A conquista da Copa da Alemanha de 1981 foi um divisor de águas para o Eintracht. A partir desse momento, iniciou-se um ciclo não tão bom em Frankfurt e com Charly como novo capitão, após as saídas de Grabowski e Hölzenbein por aposentadoria e transferência, em 80 e 81, respectivamente.
Charly teve algumas ofertas para sair durante o período em Frankfurt e quase o fez: em 1983, seu contrato havia terminado e estava com tudo acordado com o Werder Bremen, se transferiria junto a Bruno Pezzey, seu companheiro de zaga durante 5 anos no Eintracht, porém acabou ficando. Em entrevista à revista Kicker, em 2011, confessou que, durante uma viagem aos Estados Unidos, a consciência pesou e decidiu permanecer. A gratidão ao Eintracht foi um fator determinante para isso. Ainda foi procurando por Galatasaray e Bayern.
Eu queria ir para Bremen com Bruno Pezzey, em 1983, havia terminado meu contrato após onze anos. Quando estava de férias nos Estados Unidos, minha consciência pesou e eu não queria decepcionar o clube. Fico feliz por nunca ter cedido à tentação.
Caso tivesse ido a Bremen ou Munique, teria conquistado mais taças, vencido mais jogos, possivelmente marcado mais gols, mas não teria o que tem em Frankfurt: a idolatria do torcedor, o orgulho de passear pelas ruas e ver seu rosto estampado em murais e na estação de metrô, tampouco receberia uma medalha de honra da cidade ou teria seu crânio escaneado para ser exibido em um Museu de História Natural.
Stadt Frankfurt |
No fim das contas, permaneceu mais oito anos. E foi a decisão correta. Por mais que não tenham sido todos bons: brigas para evitar rebaixamento, campanhas medianas e, em meio a isso, o último título como jogador: a quarta DFB-Pokal, em 1988.
A conquista da Copa foi um momento mágico para Körbel, foi a primeira e única vez que ergueu um troféu como capitão. O caminho até Berlim não proporcionou nenhum grande entrave como outrora, até mesmo o Werder de Otto Rehhagel, adversário da semifinal, não foi um problema, e, na capital alemã, encontram-se com o Bochum. A coroação de Körbel perante 76 mil pessoas só aconteceu devido a Lajos Détári que, em cobrança de falta, marcou o gol do título, aos 81 minutos.
O ano seguinte, 1989, lhe resguardou outro momento único: na última rodada da Bundesliga, marcou um gol, empatando a partida contra o H96, que qualificou o Eintracht Frankfurt para jogar o playoff - assim evitando que fosse rebaixado de forma direta (o que seria o primeiro descenso do clube) - , e se salvar diante o Saarbrücken. A manutenção na elite foi extremamente não só para o clube, como para Körbel, que pôde se estabelecer recordista em atuações pela liga, com 602 jogos, e terceiro zagueiro com mais gols (agora é sexto), com 45 (na carreira, foram 51).
Körbel, à Archyde, sobre seu recorde na Bundesliga e a lealdade ao Eintracht: Não acho que um jogador atinja essa marca (602 jogos) novamente, muito menos em um só clube. Acredito que será algo único. Fritz Walter e Uwe Seeler, que também defendiam esses valores (ser leal a um clube), me deram isso.
Charly deixou os gramados com status de herói, bem como sinônimo de lealdade, em 1991, não só pelos 19 anos honrando a camisa do Eintracht, mas pela forma que atuava: não foi expulso, uma vez sequer, ao longo da carreira, embora tenha sido suspenso algumas vezes. Inclusive, no último jogo de sua carreira contra o St. Pauli, na penúltima rodada da Bundesliga 90/91, tomou um cartão amarelo que o impediu de ter uma despedida, em casa, como desejava - ele, seus companheiros e até os adversários protestaram contra a decisão da arbitragem, mas de nada adiantou, diante de Millerntor abarrotado, teve seu adeus.
Se na Seleção Alemã Ocidental não teve o prestígio que merecia - fez apenas seis jogos, todos entre 1974 e 75 - , em Frankfurt recebeu o devido reconhecimento.
(Imago)
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O pós-aposentadoria
Após deixar os gramados, trabalhou no Eintracht como auxiliar técnico, posteriormente como coordenador de esportes juvenis e técnico do time juvenil e profissional. Comandou a equipe sênior por mais de 40 jogos entre as temporadas 94/95 e 95/96, até ser demitido pela péssima campanha que acabou resultando no primeiro rebaixamento do Frankfurt, mesmo após a troca no comando técnico. Ainda treinaria Lübeck e Zwickau, nas seguintes temporadas. Em 2001, foi responsável pela fundação da Escola de Futebol do Eintracht Frankfurt, a qual assumiu a direção em 2010 logo após deixar a função de olheiro, que havia assumido em 2002, também é dono de uma loja de esportes na sua cidade natal.
O velho Charly com algumas crianças que integram a escolinha de futebol do Eintracht (Eintracht Frankfurt) |
Karl-Heinz “Charly” Körbel
Nascimento: 1 de dezembro de 1954
Local de Nascimento: Dossenheim, Baden-Würrtemberg, Alemanha
Times que atuou: Eintracht Frankfurt (1972–1991)
Títulos: DFB-Pokal (1974, 1975, 1981 e 1988); Copa UEFA (1980)
Nascimento: 1 de dezembro de 1954
Local de Nascimento: Dossenheim, Baden-Würrtemberg, Alemanha
Times que atuou: Eintracht Frankfurt (1972–1991)
Títulos: DFB-Pokal (1974, 1975, 1981 e 1988); Copa UEFA (1980)
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