Artilheiro nos dois lados da Alemanha, Ulf Kirsten dedicou 21 anos da sua vida ao Bayer Leverkusen, após passagem vitoriosa pelo Dynamo Dresden.
Foto/Reprodução: Bayer Leverkusen |
Artilheiro nos dois lados da Alemanha, Ulf Kirsten dedicou 21 anos da sua vida ao Bayer Leverkusen. Depois de passagem vitoriosa pelo Dynamo Dresden, Der Schwatte, como Kirsten era conhecido, abandonou a equipe da Stasi para se juntar aos aspirinas de Leverkusen. Com 49 jogos pela Alemanha Oriental e 51 pela Alemanha, já unificada, Kirsten se tornou o primeiro jogador a alcançar a marca de 100 jogos oficiais por mais de uma seleção. Seus feitos dentro de campo e a sua curiosa história com a Stasi fazem de Kirsten um personagem único na história alemã.
Ulf Kirsten nasceu no dia quatro de dezembro de 1965 em Riesa, Alemanha Oriental. E foi por lá, na parte comunista da Alemanha que Der Schwatte começou a sua carreira. A estreia de Kirsten como profissional aconteceu em 1983, com a camisa do Dynamo Dresden, clube que dominava a Alemanha Oriental. Com a camisa do Dynamo foram 154 partidas e 57 gols em sete anos de serviços prestados. Vitorioso na Alemanha Oriental, Kirsten conquistou por duas vezes a Oberliga e por três vezes a FDGB-Pokal. Sua passagem pelo Dynamo Dresden, equipe comandada pela Stasi, polícia secreta do regime comunista, rendeu uma história, no mínimo, curiosa com o serviço secreto alemão. Nos anos em que atuava pelo Dynamo, Kirsten também servia a Stasi. Der Schwatte era um informante da versão alemã da KGB, sob o codinome de Knut Krüger.
Comandada por Erich Mielke, a Stasi, juntamente com o governo da Alemanha Oriental, usava o esporte como ferramenta de divulgação dos seus feitos. Era comum que atletas de ponta da Alemanha Oriental fossem à países capitalistas para competições. Resultados positivos dariam força ao regime comunista e serviriam ao seu interesse de divulgação do regime. Porém, muitos atletas desertavam ao sair da Alemanha. Em 1979 a revista Bunte zombou do país comunista ao dizer que os seus melhores atletas estavam no ocidente. Para resolver essa situação, Mielke contratou atletas para o seu serviço de inteligência. Com agentes infiltrados nas grandes equipes seria fácil descobrir qual esportista seria um possível desertor. Sem que os seus companheiros soubessem quem era o espião, o medo nas grandes agremiações esportivas era gigantesco. Kirsten foi um dos contratados por Mielke para servir de informante a Stasi. Outros atletas/espiões eram Harald Czudaj (bobsledder) e Axel Schulz (boxeador).
Foto/Reprodução: Dynamo Dresden |
Eleito o esportista do ano na Alemanha Oriental, Kirsten foi contratado pelo Bayer Leverkusen em 1990. Com a reunificação da Alemanha, Kirsten se tornou um dos primeiros atletas a trocarem a Oberliga pela Bundesliga. E sua passagem pela Bundesliga foi memorável. Foram 350 jogos e 182 gols na competição. Sétimo maior goleador da história da competição, Kirsten foi por três vezes artilheiro da Bundesliga. Sempre jogando pelo Bayer, Der Schwatte é, junto com Gerd Müller, o único jogador a estar na lista dos dez maiores artilheiros da Bundesliga tendo anotado todos os seus gols por uma única equipe.
Convocado para as Copas de 94 e 98, Kirsten participou do maior título nacional da história do Bayer: a DFB-Pokal de 1993. Seus 222 gols em 429 partidas oficiais fazem de Kirsten o maior artilheiro da história dos Werkselfs. Comparado a Gerd Müller, Kirsten foi eleito para a equipe do século do Leverkusen, realizada em 2004, ano em que a equipe completou 100 anos de existência. Seu faro de gol e seu cabeceio feroz, apesar da pouca estatura, renderam ao centroavante alemão mais duas artilharias: a da Recopa Europeia, ou Taça das Taças de 1994 e a Copa da UEFA de 1995. E foi em cada uma dessas competições que Kirsten teve duas das suas melhores atuações como jogador profissional.
A primeira delas aconteceu no dia 15 de Março de 1994, em Leverkusen. O time alemão enfrentava o Benfica pelo jogo de volta das quartas de final da Recopa Europeia. Em um jogo de oito gols, o centroavante alemão marcou dois mas não impediu que, com os quatro gols marcados fora de casa, classificassem o time português para as semi-finais da competição europeia. A segunda e mais emblemática atuação de Der Schwatte aconteceu contra o PSV de um jovem Ronaldo Fenômeno.
No dia 13 de Setembro de 1994, Bayer Leverkusen e PSV se enfrentavam pelo primeiro round da Copa da UEFA. A ida, em Leverkusen, marcou o choque de gerações: Kirsten x Ronaldo. Com 28 anos, o atacante alemão vivia o auge da sua carreira. Em contrapartida, o jovem Ronaldo, de apenas 17 anos, se apresentava para o mundo como o fenômeno que viria a ser. Em um jogo de nove gols, Kirsten e Ronaldo fizeram três gols cada. O brasileiro estreava em competições europeias anotando um hat trick fora de casa. Mas não foi Ronaldo que se sagrou vitorioso ao fim dos 90 minutos. Os três gols de Kirsten no primeiro tempo ajudaram o Bayer a fazer, em casa, 5 a 4 sobre os neerlandeses. Uma atuação de gala do alemão diante da jovem estrela.
Foto/Reprodução: Bayer Leverkusen |
Depois dos anos de sucesso na década de 90, Kirsten, já em fim de carreira, participou do maior time da história do Leverkusen. O esquadrão que foi vice-campeão de três competições em 2002, contava com a presença de Der Schwatte. Já em outro papel, não mais como protagonista, Kirsten ajudou os jovens talentos dos aspirinas a alcançarem feitos históricos, mesmo sem terem levantado nenhum troféu.
Após a aposentadoria, em 2003, Kirsten se manteve nos Werkselfs. Foi assistente de 2003 a 2005 e como treinador do Bayer B de 2005 a 2011. Respeitado pelos rubro-negros, Kirsten fez história no time da Renânia do Norte. Sua fidelidade ao Bayer, juntamente com o seu faro de gol, fizeram com que Kirsten esteja no posto mais alto do Olimpo rubro-negro.
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